Por: Por Eduardo Ribeiro
A ansiedade me apertava o peito no camarim, nervoso para o primeiro espetáculo no FIL. O silêncio era mais do que presente no local, entrecortado pelo amassar de papéis e embalagens de comida. Subitamente, a sensação de expectativa foi invadida pelas risadas e passadas de crianças. Os corredores do CCBB, até então vazios, foram preenchidos com os mais diversos tipos de pequenos e suas famílias. Talvez seja essa magia das crianças, encantar e acalmar quando dói, quase a mesma energia revitalizante da arte.
E a arte da ópera Onheama sintetizou tão bem esse sentimento, quando o jovem indígena é desafiado a resgatar o sol, engolido por uma onça feroz, e assim trazer para floresta todos seus sons e encher novamente o céu de cores. É isso que as crianças fazem, enchem de cor um dia cinza, a cada risada em uma nota aguda da ópera, nos suspiros de surpresa: UAU, diziam os pequenos, quando as marionetes de Iara e do Boto-cor-de-Rosa apareceram no palco”, ou quando não tem vergonha alguma de expressar o máximo de seus sentimentos: “Essa foi a melhor peça que eu já fui em toda minha vida!”, exclamou um pequeno sentado bem atrás de mim, assim que as luzes se acenderam ao final do espetáculo.
As palavras de Fábio Retti, um dos artistas que manipula as marionetes de Onheama, chegam ao fundo na alma. Ele começa o espetáculo dizendo: “Só a alegria de uma criança pode resgatar o brilho da luz.” Foi isso que vi, à olho nu. Crianças resgataram a minha alegria alegria no camarim, crianças marionetes no palco, como personagens de uma ópera incrível, e crianças na plateia, vivendo e aproveitando a vida. Sai de lá com a certeza de que a arte é a síntese da alegria das infâncias.
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