Tenda Poema: Arte nas paredes
- Marcelly Dias
- 5 days ago
- 3 min read
Fellipe dos Anjos e Luíza Silva - Estudantes de Jornalismo e Observadores e FIL
Poucos são os exemplos tão singulares quanto o TendaPoema. Daqueles capazes de proporcionar um ambiente acolhedor e que ao mesmo tempo valorizem o ser humano como parte daquilo que se produz. Ao passarmos pelas cortinas com pantufas ou descalços como forma de proteger o brilho do chão liso, ficamos intrigados ao olharmos para as paredes e nos depararmos com algo tão íntimo, mas que estava ali exposto para olhos alheios. Queríamos, portanto, entender o porquê daqueles versos e bordados terem tanta vida, indo das das palavras às paredes e aos tecidos.
Ao aproveitarmos a chance de conversar com Lu Lessa, idealizadora do Tenda, notamos como a relação entre texto e têxtil é poderosa e que sempre é capaz de passar alguma mensagem, demonstrando que a comunicação se faz presente em muitos momentos e esferas.
“Quando as pessoas fazem trabalhos manuais, isso propicia um bom ambiente de troca. As pessoas conversam mais quando estão trabalhando com tecido. O tecido tem essa relação com o texto, o radical é o mesmo. E antigamente se escrevia no couro, na pele. O papel era o tecido. Então, a palavra, a escuta, a conversa, a narrativa, e as histórias estão muito conectadas com o tecido. Aliás, as roupas que a gente veste, as cores que a gente escolhe dizem coisas.”
A partir daí, passamos a olhar para nós mesmos. Os autores deste texto estão inseridos num contexto de vida universitária que exige e cansa muito, e ás vezes nos esquecemos de fazer isso, deixando de perceber que nossos relatos podem contribuir para a criação da arte que se materializa através da escuta.
Ao longo da conversa, Lu Lessa usa o adjetivo “desarmada” para complementar o sentido de escuta, fazendo-nos sentir que, embora às vezes esbarremos na sensação de solidão, e que as coisas e pessoas estão distantes de nós e da nossa realidade, que alguém em algum lugar pode contar algo valioso para que reflitamos sobre nós mesmos.
“Eu ia a muitas palestras e aulas, vendo as pessoas falando, com um paninho bordado. Comecei a perceber que quando a gente tá bordando, nossa escuta é mais desarmada. Você não fica buscando argumentos internos para rebater o outro. Isso é muito comum na escuta, a gente escutar o outro ‘armado’. E a escuta pode ser só receber aquilo e interiorizar a palavra do outro. O trabalho fiar e bordar ajuda muito nessa escuta desarmada.”
Neste momento, ao olhar para dentro mais uma vez, veio o choque de realidade. Percebemos que, o tempo todo, damos prioridade para a imposição das nossas convicções. Lu Lessa mostrou que isso poderia ser diferente, que no Tenda poderíamos mudar a forma de abordar, quaisquer que sejam as questões.
Assim, passamos a ver o Tenda como uma virada de chave para ‘tirar a mão’ da arma. Quando perguntada se a dinâmica da atividade favorece o resultado, ela fez uma consideração importante para que nossa compreensão fosse ainda mais clara.
“Não acho que seja por ser dinâmico, mas porque você volta sua atenção para o bordado e tira a mão da arma, da argumentação. Não estou falando mal da argumentação, mas estou querendo pontuar a diferença de uma escuta desarmada.”
Concluiu-se, então, que era um espaço convidativo que permitia que as histórias vivessem, que olhássemos para o físico e víssemos sentimento. A vida segue, os ponteiros vão de um lado a outro. Mas fica aqui a dica de quem esteve lá: se você quer deixar vivas as suas histórias, basta pegar uma cadeira e sentar. Este é o Tenda.








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