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22 anos de FIL: um encontro entre gerações pelo fio da memória

  • Writer: ana salles
    ana salles
  • Oct 15
  • 5 min read

Por Ana Patomatti, observadora FIL e aluna de Jornalismo da UFRJ

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A vigésima segunda edição do Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens foi marcada pela mistura de idades e visões de mundo. A plateia trás pluralidade e harmonia para dentro do Teatro Sérgio Porto e do Teatro Ipanema.

"É uma alegria porque nós somos de muitas tribos, e quando a gente junta todas as tribos pra juntar arte, o amor, a generosidade, a gente faz um movimento pequenininho no mundo, mas o mundo roda melhor. Tudo pra mim faz parte de um ciclo, e todos estamos juntos nesse ciclo, quanto melhor de mãos dadas. Então por isso que o símbolo do FIL são essas mãos dadas de todas as idades", afirma Karen Acioly, criadora do FIL, sobre sua percepção a diversidade de idades.

Ao assistir 3 espetáculos do dia, Monstros BR, Enreduana e G de Gato, foi possível observar os diferentes comportamentos da plateia diante histórias tão distintas. Cada pessoinha age de uma forma própria e individual, especialmente as crianças. As crianças...

Elas brincam com o próprio corpo, dançam com as músicas, gargalham, olham para os pais, apontam quando enxergam algo que as encanta enquanto seus olhos brilham.

Seus pensamentos animados e inquietos são o contraste das mentes adultas, acostumadas a se fascinar com a vida. Assistem a peça quietos, com suas reflexões guardadas. Os sentimentos florescem quando se emocionam, manifestando sua admiração através das palmas.

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A peça Monstros BR narra o folclore brasileiro através de uma costura, ligando um país tão diverso e colorido pelos tecidos de Daniela e sua companheira de palco Denise. O espetáculo conta lendas antigas brincando com termos da atualidade. "Fake News", "Em tempos de I.A", seguindo até as tendencias da internet "Ela está passando ali no brechó", sendo um perfeito espelho da plateia. Diferentes gerações dialogando em um só lugar. Crianças interagiam e cantavam junto, se sentiam à vontade para deitar, brincar com as pernas, rolar no chão. Elas ficam sérias quando prendem a atenção.

Encantadas. Alguns gostam de virar para os pais enquanto assistem, comentam sobre algo que perceberam. "É tipo o bicho papão né", diz um menino. Os pais de crianças menores gostavam de observar a reação de seus filhos, que ainda estão conhecendo o mundo.

“Eu e meu marido a gente sempre incentiva a arte, a cultura. Na escola eles já tem esse contato, estão inseridos nesse contexto do folclore brasileiros. Das falas, das histórias. Eu achei um espetáculo maravilhoso, tanto encantou os meninos, quanto nós os pais” conta Catarina, mãe de 2 menininhos pequenos.

Uma dupla de pai e filho, Caio e Cláudio, contam que gostaram de Monstros BR, mas de diferentes maneiras, refletindo suas idades na maneira de se comunicar.

“É que lá na minha escola tem esse livro, o mais assustador do folclore”, disse Caio, de 8 anos.

“Eu comentei com minha esposa, que quando elas começaram a cantar a música do Tutu, eu tive essa lembrança que nem tava mais no meu cérebro. Uma coisa incrível porque não tinha a menor lembrança dessa música. Me ascendeu uma fagulhazinha, levando de volta”, conta Cláudio, se diferenciando da fresca memória de seu filho.

"Eu fico pensando que uma história ela tem várias camadas. Como um tapete. Você vai criando estratégias na própria narrativa. Como tinham aqui bebês, não vão entender sobre as questões da narrativa, mas eles vão pegar o impacto, a energia, as cores, tem uma viagem que é estética. Você não pode fazer rompimentos na narrativa, que ele não acompanha, mas você consegue fazer todas essas coisas em um só trabalho. Por exemplo, nas costuras que você faz de contexto. Mas todo mundo pode se envolver com a música, com o ritmo, com a brincadeira.", disse Daniela Fossaluza, sobre a diferença na plateia.

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Diferente de Monstros BR, Enreduana e G de Gato trazem uma narrativa e um público mais adulto, mas sem deixar de fascinar os mais jovens. Afinal, não há limites para se encantar pela arte.

Enreduana conta a história da primeira poetisa do mundo. Uma ótica musical que abusando de instrumentos e melodias leves, com letras belas e delicadas, que refletem a narrativa dessa figura histórica.

O público infantil, mais uma vez, mostra seu lado admirado pelo comportamento. Assim como em Monstros BR, as crianças apontam o mais interessante aos pais. Um menino bate palma com um grande sorriso. Seus pais passam a sorrir com a contagiosa alegria do pequeno. O público reflete uma geração mais velha, admiradores de uma encantadora montagem. Não são tão animados quanto as crianças, que dançam com as animadas canções de Enreduana, mas admiram os artistas no silêncio de suas mentes.

“A peça foi surpreendente, o musical como é que traduziu a história que nos emociona, que dá pra gente compreender toda a história da Enreduana. Uma história bonita e tão importante pra gente conhecer, nós mulheres sabermos que uma mulher foi a primeira poeta, isso é muito bonito de ver. Gostei muito", conta Patricia, professora universitária que esteve na plateia.

"Eu achei a peça bem legal, eu fiquei confuso em alguns momentos, só que depois eu me liguei. Eu gostei muito das músicas e dos atores", comenta Nuno, de 11 anos, divergindo da ideia de Patricia.

Uma peça mais calma e tranquila como Enreduana é o contraste perfeito do misterioso e surrealista G de Gato. Peça original do grupo O Coletivo Tumulto, que traz um ar de suspense para o auditório do Teatro Sérgio Porto, mas deixando que as altas risadas da criançada preencham o ambiente mais intimista.

Você sabia que no começo do espetáculo o público recebe uma enxurrada de curiosidades? É o que um dos personagens faz, trazendo diferentes informações depois da seguinte fala: “Você sabia?”. Os adultos estranham, mas entram na brincadeira. Ao contrário das crianças, que de cara acham engraçado e até usam suas vozes para dizer que sim, elas sabiam. As piadas adultas não são um problema para o público infantil. Eles demonstram se divertir junto, mostrando que uma boa forma de narrar uma história, não deixa espaço para uma divergência entre idades.

Após o encerramento, conversei com dois grupos, um de adultos na faixa dos 20, e outro de pré-adolescentes, que tinham entre 10 e 12 anos, e mais uma vez, encanta como as visões de mundo e arte mudam pela vida. O primeiro bando concorda entre si que suas partes favoritas foram aquelas que deixam mais evidente a trama psicológica. O de pré-adolescentes ficam de acordo que a velinha dançando foi disparado a parte mais legal.

Nesses 22 anos de FIL, o encontro de gerações em um ambiente artístico mostra as diferentes maneiras de enxergar a arte pelas idades, demonstrando que a paixão e admiração não tem hora para chegar. Todos que tem contato com ela, a observam de um jeito diferente, mostrando seu verdadeiro proposito. Ser tudo ao mesmo tempo.

"Eu acho que é uma experiência riquíssima e amorosa", conta Julia, de 96 anos, que frequentou as 22 edições do festival, ao ser perguntada como é estar em contato com as novas gerações do Fil.

 
 
 

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4 Comments


monica_s
Oct 15

Que incrível ver como a arte conecta pessoas e culturas de forma tão inspiradora! Parabéns pela matéria!

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Fabiano Pereira
Fabiano Pereira
Oct 15

Como é importante está rica integração cultural! Melhor ainda com tantas idades distintas. Boa matéria.

Edited
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Daniela Pereira
Daniela Pereira
Oct 15

É incrível como a arte abre portas para o mundo, enriquece a alma e expande o pensamento. Que demais!

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mariaclaranadaid
Oct 15

Adorei .Não sabia o significado do símbolo do FIL , gostei de saber !❤️

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