PEQUENO CINEASTA E A ESSÊNCIA DA CRIANÇA
- Marcelly Dias
- Nov 8
- 3 min read
Por: Beatriz Camargo, aluna de Jornalismo na UFRJ e Observadora FIL
No dia 12 de outubro de 2025, famílias vindas de vários lugares do Rio se reuniram
no Teatro Sérgio Porto para assistirem os curtas filmados e editados por suas
crianças. A apresentação faz parte da 22a edição do Festival Internacional de
Intercâmbio de Linguagens. O que se viu foram registros de vivência e de realidades
completamente distintas, registros que o cinema permite mostrar. Conhecer esses
trabalhos tem o poder de trazer a tona diferentes histórias de identificação, e o filme
se torna parte da vida do espectador. A imaginação tem espaço para correr
livremente. Quando a ótica de quem filma é a de uma criança, o resultado é
surpreendente. Pequenas mentes oferecem grandiosas ideias e se unem no projeto
Pequeno Cineasta, criado pela produtora de arte Daniela Gracindo. Nesse projeto
jovens de 8 a 17 anos encontram espaço para extravasar seus pensamentos em
plataforma audiovisual.
Foi possível apreciar criações únicas desses alunos, produzidas em parceria com o
grupo GJ Brasil.
O projeto mostrou que o cinema é capaz de conectar pessoas que jamais
imaginariam ter algo em comum. Filmes inéditos contaram histórias através de
personagens representados por bonecos de brinquedo em cenários caseiros.
Roteiros críticos feitos pelas crianças falavam do uso excessivo de celular.
Cada curta, com sua ideia central, refletiu-se de forma genuína nas próprias
crianças, com reações que chamaram minha atenção. Respostas singelas
expressas com sinceridade infantil. O choque nas cenas de susto levou os
pequenos espectadores aos gritos. Cenas de humor arrancavam risadas
verdadeiras.

O trabalho de Miguel Viglio, um Pequeno Cineasta que dirigiu o filme “Meca- Kid”,
concorreu no Festival do Rio com o filme Meca-Kid. Ele conta que “foi muito
contar histórias.” Seu pai, Marcelo Viglio, diz que achou notável a reação das
crianças na exibição do filme do filho no Festival do Rio. Isso mostra a resposta do
público ao projeto de Daniela Gracindo: o cinema feito para crianças por elas
próprias pode gerar valor para que elas vivam e aproveitem ainda mais cada
momento da infância. Esse efeito se aplicou tanto às crianças que participam da
montagem dos filmes, quanto às crianças que assistiram os resultados, e se
sentiram representadas e motivadas a também participar das oficinas.
Ygor Marçal, de 12 anos, participou do Pequeno Cineasta como ator, diretor e
roteirista, e disse que “o projeto dá oportunidade para as crianças trabalharem atrás
das câmeras. “Ali a gente aprende mais um pouquinho sobre o que é audiovisual.”
Ele acredita que “ isso é muito importante, dar oportunidade a crianças que querem
ingressar no meio do audiovisual e que querem ter uma chance, sabe?” Ao ser
perguntado se as crianças têm o potencial de fazer filmes tão bons quanto filmes
produzidos por adultos, Ygor diz que “Se você der um papel para uma criança, ela
pode desenhar ou escrever, fazer um livro… e a criatividade daquela criança pode
influenciar em várias coisas.” Ygor já dirigiu e roteirizou dois curtas através do
pequeno cineasta.
Um projeto como esse desperta interesse genuíno não só nas crianças, mas nos
familiares delas. Eles se tornam mais atentos aos talentos de seus filhos, podendo
estimular um futuro que condiz com as expectativas dos sonhos infantis. Permite
conhecer mais do universo, da mente e da capacidade infantil que muitas vezes é
subestimada. Entrevistando Andréia, mãe de Ygor, perguntei como ela se sentia em
relação ao desenvolvimento do filho no Pequeno Cineasta: “Me sinto lisonjeada!”,
diz a mãe. “Porque desde que ele era pequenininho, eu chamava ele de Monteiro
Lobato… pra tudo ele inventava uma história, mas eu não via esse lado do
audiovisual nele. Hoje eu vejo. Ele já escreveu livros, atuou, roteirizou e dirigiu
curtas metragens, tem uma peça teatral escrita… eu fico muito feliz porque eu sei
que estou ajudando ele de alguma forma, ele sai um pouco das telas e vai pro
papel, e essa coisa de ir pro papel aguça a criatividade, ele viaja nas histórias.”
Que mais pequenos cineastas pelo mundo afora possam ter a oportunidade de
serem protagonistas de suas próprias histórias. Que, cada vez mais, possam ter voz
e a autonomia de traçar seu futuro através da expressão artística, permitindo a
imaginação fluir sem padrões pré estabelecidos. Que mais crianças se sintam livres
para viajar nas histórias e se expressem através do audiovisual.








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