ETs famintos no FIL
- Marcelly Dias
- Oct 9
- 4 min read

Entrevista feita por Tomás Ribeiro para o festival FIL 2025. Os entrevistados são a dupla Pedro Vasconcellos e Nina Gaul, responsáveis pelo livro “Milkshake do Vampiro”, e agora retornam com “ETs Famintos”, que será lançado dia 12 de outubro no FIL. O livro conta a história de kiwis que são arremessados no planeta Urano, onde encontram frutas e alienígenas, e acabam tendo uma experiência de união e perdão. A entrevista tem como objetivo entender melhor o processo de concepção do livro e da sua história, além de analisar a construção da identidade visual.
Entrevista com Pedro Vasconcellos (Autor):
P: Qual foi a sua inspiração para dar continuidade nessa temática de frutas e a mensagem de união, que também aparecem no livro “Milkshake do Vampiro”? O que muda dessa vez no processo criativo e no recado que você deseja transmitir para as crianças que vão ler?
R: O processo de criação do livro “ETs famintos” começou a partir de uma pergunta instigante de um amigo: “Onde foram parar os Kiwis depois de terem sido catapultados pelo liquidificador durante o preparo do milkshake de frutas vermelhas?”. Na época achei que era uma pergunta que poderia ficar em aberto, na imaginação das crianças. Mas a verdade é que ela ficou na minha cabeça. Somada a vontade de voltar a trabalhar com a Nina Gaul, resolvi responder a essa pergunta, voltando ao tema de união e trabalho em equipe, levando os Kiwis para um lugar onde eles encontrariam outras frutas tão verdes quanto eles e pudessem viver uma nova aventura.
Dessa vez, decidi falar também sobre honestidade e perdão, pedir desculpas e desculpar as pessoas próximas, no caso dos personagens principais, as outras frutas como: abacate, limão, uva e maçã verde. Estas, ao verem os ETs fissurados nas novas frutas que chegaram no pedaço, os Kiwis, ficaram podres de ciúmes e aprontaram pra cima deles. Tcharaaam!
P: Além de autor literário, você também dispõe de uma extensa obra relacionada a artes plásticas, então o que levou você a realizar essa parceria com a Nina Gaul para dar vida às histórias?
R: Sou artista plástico, com formação pela EAV e realizei algumas exposições individuais e coletivas nos últimos quinze anos. Durante a pandemia, entreguei o meu ateliê e comecei a procurar uma alternativa para a expressão artística. Foi aí que encontrei a literatura. De lá pra cá, publiquei 3 livros infantis, um e-book e um livro adulto.
Trabalhar com a Nina é um prazer absoluto. Dona de um talento absurdo e uma ousadia criativa riquíssima, tudo o que ela faz me encanta, de verdade. É a melhor designer do Brasil, sem sombra de dúvidas. Chegamos num modelo feliz de história e ilustração carismático e provocante.
P: Na sua biografia você cita ter participado de uma série de exposições anteriormente, mas visto que as suas obras literárias contam com datas de publicação mais recentes, você sente alguma diferença entre a exposição do trabalho gráfico e do escrito? Quais são as suas expectativas trazendo seu livro para o FIL?
R: Ótima pergunta. A principal diferença que senti de cara entre o processo plástico e a escrita foi a imersão maior no momento presente, no processo da elaboração da história, o jogo de palavras, os personagens, conflitos etc. Talvez porque na produção plástica, seja pintura, desenho, escultura e por aí vai, o artista tenha que esperar um determinado tempo para o material secar, respirar, colar, e quando isso acontece pode nascer um novo trabalho, visualmente diferente do esperado, o resultado acontece num instante posterior, menos imediato. Na escrita, independentemente do livro estar finalizado ou não, o autor constrói pequenos presentes, palavra a palavra.
Participar da FIL é um privilégio, estar próximo de pessoas super talentosas, livres e tão amorosas é o melhor lugar que eu poderia estar. Obrigado.
Entrevista com Nina Gaul (ilustradora):
P: Tanto no livro “Milkshake do Vampiro” quanto nesse novo trabalho com o Pedro Vasconcellos, é visível a construção de uma identidade visual marcante nas ilustrações. De onde vem essa escolha estética? Houve alguma obra, artista ou movimento artístico que você diria ter te inspirado?
R: Eu sou especialista em construção de identidades, trabalho com isso há muito tempo. Então realmente você vai ver uma identidade marcante pro Milkshake do Vampiro, que acabou se desdobrando nos ETs famintos, exatamente porque a gente conseguiu construir uma coisa bem interessante. Eu acho que a coisa se deu na simplicidade da escolha das cores e do elemento pra trazer a ilustração, então foi um desafio pra mim, escolher esses retângulos e tamanhos pra gente conseguir com três tamanhos divididos em seis cores, pra fazer se revelar a história. A ideia era pra ser uma coisa pras crianças poderem fazer em casa, construírem desenhos a partir daquele elemento, então é uma forma muito simples que dialoga com a geometria e simplicidade que eu curto muito em movimentos artísticos.
P: Entre os dois livros, você sente que teve alguma evolução ou mudança estilística? Houve espaço para experimentar novos traços, texturas, paletas de cor e composição, ou você preferiu manter a mesma linha estética?
R: Eu não quis trocar a paleta, achei que eu escolhi exatamente as cores que a gente precisava pra fazer a ilustração. Algum resto, traço da ideia da história, e alguma coisa que explodisse em um terceiro plano, entre desenho, história e imaginação. Acho que esse é o grande desafio de ilustrar livro infantil, e abrir esse imaginário da criança ou qualquer leitor. Então a gente não trocou paleta de cor, não troquei tamanho das peças, continuei com a mesma linha estética.
P: Como você descreveria a troca criativa com o Pedro? O texto já chega pronto pra você, ou também participa da concepção da história?
R: O Pedro me convidou pra ilustrar Milkshake do Vampiro, me deixou super à vontade pra mostrar alguma coisa sobre a minha leitura daquilo, então ele me entregou o texto pronto nas duas ocasiões, e eu criei essa identidade pra gente seguir. O Pedro super participa quando eu mando as primeiras ilustrações, ele fala “vamo tirar isso aqui, botar só um planeta, dois”, ele participa da composição final na hora da ilustração. É uma troca, com certeza, de alguma forma.
“É um livro leve, divertido, que desperta sentimentos bacanas nas crianças e que vem acompanhado por ilustrações fortes, com personalidade e lindíssimas.” - Pedro Vasconcellos
Agradecimentos à Nina Gaul e Pedro Vasconcellos, por disponibilizarem tempo e atenção para a entrevista, com informações que contribuem significativamente para conhecer melhor a origem do livro.








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